terça-feira, 13 de março de 2012

COMO ME TORNEI ESPÍRITA



Sempre convivi com fenômenos mediúnicos em casa, mas me pareceriam normais.
Minha mãe incorporava ' involuntariamente', uma empregada também dava 'ataques', que era como chamávamos na época a incorporação por obsessor. Mas estranhamente estes acontecimentos, de tão corriqueiros, pareciam perfeitamente normais e integrados a nossa rotina. Nada sabíamos de espiritismo ou 'mesa branca' como meus pais chamavam, 'espiritismo de mesa'. Minha formação era católica, como a de meus pais e assim deveria ser por todo o sempre. Amém.
Quando tinha 9 anos, ia a igreja semanalmente e gostava muito, principalmente da hora dos cântigos. Por esta época 'descobri' a vocação para ser freira. Achava bonito o que imaginava ser uma dedicação total ao próximo. Gostava da ideia de viver enclausurada, em oração por todos, numa beatitude altruísta. Também gostava de ver as pessoas na igreja, num domingo cedinho, pensando que aquelas pessoas tinham outra opção, que era a de dormir até mais tarde no único dia de descanso na semana, mas levantavam-se cedo pra apenas ir orar. Não é bonito isso?
No entanto, na adolescência, por volta dos 13 anos, comecei a questionar a igreja. Ninguém sabia responder minhas perguntas. Não acreditava na ideia de céu e inferno que era propagada. Achava impossível só ter essas duas (na verdade, três, por que ainda tinha o purgatório) opções no pós vida. E se a pessoa se arrependesse? Sairia do inferno ou ficaria lá pra sempre? E o céu não seria uma coisa chata, só ficar tocando harpa, em beatitude eterna? Na verdade, esse questionamento vinha desde os 7 anos, quando comecei a me dar conta das coisas. Mas já por essa época isso não me convencia.
Também não entendia o ritual na igreja, do senta-levanta-senta-ajoelha-levanta-senta-levanta...Nem por que líamos aquele jornalzinho no 'piloto automático', só repetindo frases sem sentido (pelo menos pra mim).
De questionamento em questionamento resolvi romper com a igreja católica. Não sem antes discutir muito com minha mãe, que não aceitava minha opção. Ora, se era uma opção, eu poderia escolher, não?
Por fim, virei uma 'desgarrada', digamos assim. Não tinha religião, mas ela me fazia falta.
Não queria ter uma religião apenas por ter, mas ela deveria fazer sentido pra mim. Gosto de raciocinar sobre as coisas e não fazer algo por que todos fazem, sem refletir sobre isso.

Quando estava com mais ou menos 17 anos, no meu trabalho precisei substituir uma colega. Como fosse um setor muito parado (recepção), procurei algo pra ler nas gavetas da mesa dela e me deparei com um livro chamado Senzala. Anos depois me dei conta da ironia deste título. O livro não tinha sinopse e eu não tinha a mínima ideia sobre o que se tratava. Mas gostei mal comecei a ler. Era um romance. Quando narra a morte do personagem principal e sua vida no mundo espiritual, me surpreendi, mas me pareceu estranhamente familiar também. Ao terminar o livro, fiquei pensativa e quando minha amiga retornou pedi outros emprestados. Outra amiga, simultaneamente, me convidou a ir a um centro espírita. Passei a ler livros da área e a ir ao centro espírita todas as semanas. Gostava das palestras, do passe, da harmonia que sentia ali. Durante uns 3 anos não consegui me declarar espírita. Achava que precisava ter certeza disso primeiro, me sentir segura dentro da nova fé. Depois, orgulhosamente me declarava espírita. Amava minha religião.
Até próximo aos 30 anos foi assim. Mas aí minha mediunidade aflorou e precisei decidir muitas coisas.
Sempre me disseram que eu era médium, em muitos lugares, mas eu não sabia direito o que precisava fazer.
Na hora certa, porém, tu se encaixou.
Fiquei por alguns dias sentindo mal estar, dores estranhas, dores de estômago, inquietação, tonturas...Não sabia o que era. Uma amiga falou pra outra e essa outra fez uma oração enquanto psicografava de manhã bem cedinho. Se desdobrou e foi até minha casa em espírito Me deu um passe e eu, sem saber de nada, pois dormia e nada vi, acordei mais tarde já sem dor alguma. Somente mais tarde soube o que tinha acontecido. A minha amiga nunca tinha ido a minha casa, mas descreveu objetos do meu quarto, bem como sua disposição.

Fiquei surpresa com aquela revelação e muito grata também. Minha amiga sugeriu que eu fizesse um curso de educação da mediunidade com essa outra amiga. Durante duas semanas frequentei o centro espirita, assistindo palestras e aguardando por uma vaga na sala dela, já que uma outra pessoa entraria pra turma (que estava em curso há 1 ano e meio).
Por fim, fui recebida na sala e a tal pessoa que entrou junto comigo logo saiu. Não tive dificuldades em acompanhar por que lia muito, há muito tempo. Conhecia muito da teoria.
No primeiro dia, após os estudos, fizemos um relaxamento. Sempre tive dificuldades com esta parte, sou muito 'ligada' e relaxar é um problema, mas valia o esforço.
Na luzinha azul do ambiente, a voz macia de minha amiga-professora, quando percebi, 'vi' ao meu lado uma moça, mas não conseguia ver seu rosto. Sabia que era um espírito. Ela usava um casaquinho de cachemir rosa, tinha cabelo na altura dos ombros, era jovem, me parecia. Não sei precisar, mas talvez uns 30 anos. Embora não tenha visto seu rosto, sentia ser assim.
Ela estava no meu lado esquerdo, bem na frente. Surpresa, vi minha avó paterna do lado oposto, usando um vestido branco, com risquinhos diagonais em preto. Usava o cabelo com um grampinho prendendo-o ao lado e me olhava com preocupação, com um certo cuidado. Minha avó faleceu quando eu tinha 7 anos mais ou menos.
Sentia que ela me ajudava a me desprender do corpo. Parecia que segurava meu braço direito, pra me ajudar a levantar, espiritualmente falando.
Quando tudo acabou, as luzes se acenderam e fiquei surpresa mais uma vez por estar levemente enjoada e vendo tudo desfocado. Como usasse óculos pra longe (sou míope), e estivesse sem, pensei que fosse por isso. Mas mais surpresa ainda fiquei ao colocá-los e a sensação continuar. Além disso, eu via as pessoas que estavam ao meu lado como se fossem um borrão. Uma pessoa mais experiente do grupo disse que era só a mediunidade desabrochando e eu iria ficar bem. Mas não fiquei. Tive aquele enjôo até chegar em casa e também dor de cabeça, apesar de a visão turva ter passado. Hoje entendo que isso era fruto do desdobramento.


Na semana seguinte, senti muita inquietação pra permanecer na sala de aula, não conseguia ficar lá. Depois, tive uma vontade de chorar incontrolável e me encolhi na cadeira, sentindo muito frio. Uma pessoa ao meu lado me emprestou sua jaqueta e coloquei-a ao contrário, à guisa de cobertor improvisado. Aos poucos, ainda sentindo muito frio (era só eu), me encolhi por baixo da jaqueta e chorei. Chorava o tempo inteiro, sem que ninguém me perguntasse nada sobre isso. Acharam que eu tinha algum problema emocional, mas não perguntaram. No fim dos trabalhos, aquela medium mais experiente me disse que eu deveria sentar numa cadeira no centro da sala e fiz isso e logo senti que eu era outra pessoa, mas não queria aceitar isso. Sabia que estava incorporando, mas não queria ter esse tipo de mediunidade, tinha medo de perder o controle da situação.
Embora resistente, fui cedendo aos poucos, mas não de todo. Ficou uma coisa meio truncada.
Eu 'via' um menino, usava uma camiseta de listras azuis e brancas, parecendo maior do que ele. Deveria ter uns 8 anos e procurava sua mãe. Estava zangado e me disseram que era um morador de rua. Ele foi encaminhado e me senti infinitamente melhor. Dali pra frente todas as semanas acontecia alguma coisa nesse sentido.
Hoje controlo minha mediunidade com muito mais facilidade, já sou 'educada, digamos assim.
Já passei por muito grupos e no atual me sinto perfeitamente entrosada e a vontade com meus companheiros, muito satisfeita mesmo.
Achei o meu caminho!

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