sexta-feira, 16 de março de 2012

SER MÉDIUM



Quando me descobri medium, como relatei no post “Como me tornei espírita”, foi meio surpreendente e ao mesmo tempo natural.
Sou possuidora de várias mediunidades e fui descobrindo-as sucessivamente. Dizem que muitos mediuns também são assim, possuidores de muitas destas ferramentas, as quais vão se adequando a que melhor conseguem utilizar e fazem dela o 'carro-chefe'.
A Psicofonia (ou incorporação, como chamamos) foi a mediunidade que mais tive resistência por medo de perder o controle, seja do meu corpo, seja da situação. No entanto, depois de entender que isso não aconteceria, pois sou medium consciente, comecei a gostar. Há 12 anos que convivo com essa mediunidade, desde que ela se manifestou, e tenho aprendido muito em todos os sentidos.
Cada espírito que chega me acrescenta algo. Há aqueles que contam suas dores, historias, medos, ira, arrependimento. Passo por todas essas emoções e sentimentos numa noite de trabalho. Emoções que nunca senti ou não conheço me fazem ficar a cada dia mais sensível. Lembro de uma vez em particular, que incorporei uma mulher encarnada (sim, isso é possível) que tinha perdido o marido. A dor que ela sentia nunca senti, mas era tão aguda que era impossível não ter empatia e dividir essa dor, mesmo que por alguns instantes. Fiquei impressionada com a intensidade do sentimento. Uma mãe que perdeu o filho de 12 anos atropelado (ela também estava encarnada) mexeu muito comigo, tamanha a depressão e dor. Uma outra que também estava em depressão (encarnada) me fez sentir como se eu estivesse dentro de um tornado, de um vendaval, algo bem forte. A cabeça girava loucamente, parecendo que ventos me cortavam a pele do rosto. Não conseguia concatenar os pensamentos e só sentia tristeza profunda e dor novamente. Sempre ela, permeando tudo.
Já vivi junto com eles a alegria de um reencontro, a saudade, o arrependimento, a culpa, a tristeza, a indecisão em aceitar ajuda, ira (esse último extremamente comum, o que nos faz pensar), sensualidade,confusão mental (desnorteamento), insegurança...enfim! Em pouco minutos, passo por uma gama de sentimentos e emoções que vão do 0 ao 100.
Naquele momento da incorporação eu sou aquela pessoa, com tudo que isso implique.
Vou ao passado com frequência e conheço boa parte da história mundial, in loco, se podemos dizer assim.
A habilidade e sensibilidade do doutrinador contribui para o esclarecimento daquele espírito, mas ele também recebe ajuda do grupo espiritual, das energias que emanam daquele ambiente, sejam as manipuladas pelos espíritos bons, sejam as dos encarnados, que as doam naturalmente. Recebe também a contribuição do medium, que permite que ele se expresse, seja ouvido, sinta as emoções e energia deste mesmo medium ( que devem estar equilibradas, pra poder ajudar).
A incorporação é uma das mediunidades que mais admiro, porque acredito que seja a mais efetiva para a solução da situação que o espírito se encontra.
Já senti através desses mesmos espíritos uma raiva, uma ira, absurda e eu mesma nunca havia sentido aquilo e nem quero sentir. Nesses momentos, quando o espírito está tão mergulhado no ódio, não conseguindo ouvir, praticamente cego, sufocado na emoção, geralmente ele é adormecido. Há situações que o 'sonífero' ministrado a ele é tão forte, que fico uns minutinhos sonolenta, sem forças. Talvez isso se deva também a energia que despendi com a incorporação dele, com a doação e troca de energias.
Há espíritos que ficam tão centrados numa vingança que não conseguem perceber mais nada, num ciclo vicioso de sentimentos, a mente focada na vítima. Muitos não percebem o passar do tempo (na verdade, a grande maioria), principalmente se houver ódio envolvido.
É interessante que nossa mente enquanto estamos incorporados se divide o tempo todo. Há pensamentos e sentimentos do espírito e pensamentos e sentimentos do medium. Tudo fica meio misturado, ou melhor, simultâneo. Dá pra saber o que é de um e o que é do outro, mas fico com medo de interferir sem querer. Acho que posso auxiliar, mas de uma forma dirigida. É tudo muito sutil e podemos nos desconcentrar com facilidade, seja através do toque do doutrinador no corpo do medium, seja um som mais alto (muitas vezes uma buzina de carro ou algo assim, passando na rua). Há que se esforçar também pra manter a concentração, inclusive dos próprios pensamentos, por que se a desincorporação for muito brusca, o medium muitas vezes fica com dor de cabeça, parecendo fora do corpo, meio enjoado, a visão meio borrada. Na verdade é porque ele ainda está meio desdobrado.
Dos três tipos de incorporação (consciente, semi-consciente e inconsciente) sem dúvida prefiro a primeira, que é a que tenho. Apesar de haver facilidade de interferências internas (desconcentração) ou externas, (o que citei acima), ainda acho melhor do que não saber o que aconteceu.
Há também o animismo, claro, que é o 'fantasma' de todo medium. Temos muito medo dele, por que significaria que estamos 'inventando' tudo aquilo, mesmo sem ter a consciência disso. Há quem minimize isso, mas prefiro ficar vigilante com relação ao assunto.
A incorporação de entidades (Umbanda) ou espíritos mais evoluídos é um capítulo a parte.
Com entidades como pretos velhos acho maravilhoso, porque eles tem uma sabedoria e uma calma, uma paciência, que me faz sentir muito pequena, muito criança, muito imperfeita. Mas ao mesmo tempo, aprendo com os conselhos e sentimentos que eles transmitem. Há uma bondade que independe das palavras, é apenas um sentir, um bem estar magnífico. Muitas vezes isso se traduz num calorzinho que se espalha do coração pro resto do corpo. E também percebo que isso acontece com mais frequência depois que incorporo um espírito com energias muito densas, muito ruins, muito pesadas. Parece-me que os pretos velhos vêm pra 'limpar' meu períspirito, chacras, algo assim.
Ciganos também são interessantes (ciganas, na verdade) por que tem uma energia muito alegre.
Índios raramente incorporo e normalmente não como entidade, mas como espírito 'comum'.
Os exus deixam uma energia pesada pra mim. Nosso trabalho é na linha kardecista, mas muitas vezes as entidades da umbanda nos visitam. Já li que quando há essa ajuda é porque é necessário.
Espíritos de luz, como dizemos, os espíritos mais evoluídos, mesmo que apenas um pouco mais, são muitíssimos sutis e mal tenho certeza se sou eu ou eles. Depois que relaxo mais, a incorporação fica mais afinada, mas na verdade acho que a sintonia melhora depois que páro de tentar interferir e apenas ouço o que minha boca fala. Há aqueles que mal tenho controle do que falo, nem mesmo penso antes. E há aqueles que tenho uma ideia do que querem dizer, mas uso minhas próprias palavras. Às vezes, na tentativa de achar algo que traduza o que sinto, uma palavra pra isso, me perco um pouco, talvez me desconcentre e, como é muito sutil essa ligação, acho que fica meio truncado, parecendo que estou inventando.
Já incorporei seres que diziam ser extra-terrestres. Algo muito discreto. Apesar de saber que existe vida além da Terra, nesse Universo tão grande, é muito discutível pra mim que naquele momento seja realmente alguém assim. Na verdade, sei que é, não sinto mistificação, mas me parece meio inverossímel. Como disse, tenho medo de espíritos mistificadores. Nesse caso não do animismo, por que não tenho nenhum interesse, nem curiosidade nesse tipo de comunicação. Já os vi e são iguais a nós mesmos, já ouvi sobre o nome do local de onde vem e já vieram algumas vezes, mas não com frequência, nem sei direito por que vieram. Normalmente é pra dar alguma comunicação esclarecedora, pedidos de paz, coisas assim. Nada fatalista, nada assustador, nada espetacular. Tenho motivos pra achar que tem a ver com Ashtar Sheran, mas só fui descobrir isso muito tempo depois e quase por acaso, por que vi uma foto na internet. Já tinha acordado uma vez com o nome Yshtar na cabeça, mas achava que tinha a ver com uma cidade árabe. Depois, tudo fez mais sentido.
Até ver esta foto na internet, nunca ouvi falar em Ashtar Sheran e mesmo assim sei pouquíssima coisa agora.
De qualquer modo não quero entrar nessa questão mais profundamente, nem ser indiscreta quanto a qualquer assunto espiritual. Um dos motivos de nunca ter feito algo nessa linha, como um blog, foi exatamente esse de temer ser indiscreta com a espiritualidade. Há coisas que melhor se dizem calando.
Mas quero deixar registrado aqui de que a psicofonia é, pra mim, gratificante e de extrema utilidade dentro de um trabalho espiritual. Mesmo que muitas vezes no dia do trabalho não estejamos bem, mesmo que na hora de uma incorporação de um espirito com vibração muito baixa nos sintamos com mal estar (como enjôo), ainda assim, sou grata por fazer a minha parte.
Num próximo post irei abordar as outras mediunidades que conheço, porque esse ficou um pouco mais longo do que eu imaginava.


P.S.: PESQUISEI AGORA NA INTERNET SOBRE ASHTAR SHERAN E ACHEI ALGO QUE ME INTERESSOU POR SER BASICAMENTE UM RESUMO DO QUE VI.
VI EM ALGUMAS SESSÕES ESSES SERES QUE TAMBÉM SÃO ASSIM DESCRITOS NO SITE QUE ACHEI:
Mas a verdade é que as referências ao nome Ashtar podem estar relacionadas as descrições feitas pelo auto-proclamado médium e dentista norte-americano, que vivia em Nova Iorque, chamado John Ballou Newbrough que teria psicografado ou “canalizado” a obra "Oahspe", no ano de 1882. Nesta obra John Ballou, que alegava que as “sagradas escrituras” foram reveladas a ele por “entidades angelicais”, faz referência a estes seres espirituais que viajariam em naves “etéreas” e que teriam a missão de proteger mundos menos desenvolvidos. O nome destes seres seriam "Ashar" e o plural seria "Ashars". As descrições destes seres os mostram como altos, corpo atlético e de morfologia humanóide, aparência nórdica, cabelos loiros ou alvos e olhos azuis. Possuem um olhar penetrante e desafiador, sendo que estariam interessados em pesquisar e compreender as formas de vida existentes no Universo e assim compreender a sua própria existência. Seriam na verdade como uma espécie de “antro-arqueo-psico-exo” cientistas.

quarta-feira, 14 de março de 2012

MEDIUNIDADE


Dizem que quem não é 'espírita de berço' , quando se torna é pela dor ou pelo amor.
A dor seria quando a pessoa se vê com problemas sérios, muitas vezes com relação a mediunidade ou obsessão, e busca ajuda num centro espírita, muitas vezes lá permanecendo e se tornando espírita.
O amor é quando a pessoa escolhe a doutrina.
Me encaixo neste último tipo.
Como expliquei no post “Como me tornei espírita”, só descobri a mediunidade de que sou portadora, após muitos anos sendo espírita. Naturalmente, considero meu encaminhamento ao espiritismo como uma espécie de preparação da espiritualidade para quando a mediunidade se manifestasse dali há uns anos. Poderia ter sido ao contrário e eu só buscar o espiritismo depois de ter aqueles sintomas que descrevi, mas também poderia lá não querer permanecer. Enfim!
O fato é que devo ter me preparado antes desta encarnação com muita responsabilidade e certeza do que queria. Gosto de ser medium, embora muitas vezes isso implique em escolhos. Mas também conheço pessoas que são mediuns e não querem ser, não usam sua mediunidade em prol do outro. Como nada se perde, talvez elas a usem inconscientemente.
Por tudo que já li, sei que a mediunidade longe de ser um privilégio dos 'eleitos', como muitos incautos pensam é, na verdade, uma ferramenta de trabalho.
O espírito que errou muito, solicita (ou lhe é oferecido, talvez imposto) a mediunidade como forma de resgate de suas faltas. Ela ajuda a pessoa a 'queimar', digamos assim, de maneira bem simplista, seu carma negativo, através da ajuda ao próximo. É um assunto que pode ser discutido de vários ângulos, de várias formas, mas me deterei aqui à responsabilidade do médium, depois que se comprometeu antes do reencarne.
É interessante que a pessoa concorda em ser medium ao renascer, lhe é oferecido um corpo já com os 'acessórios' de fábrica pra facilitar isso, mas quando chega a hora, muitos desistem, esquecidos de que devem grande soma, têm grandes débitos ainda. Ok. Numa próxima vida terão que recomeçar, mas com o agravante de terem desistido. Outros, mesmo desistindo, sentem muito sintomas, muitas vezes em forma de doença pelo excesso de energia que receberam e não usam. Ainda assim não querem usar a mediunidade.
Tudo o que estou falando aqui não é fruto de achismo, mas de leituras. Diversos autores, porém, contestam estas afirmações também.

Há aqueles que são mediuns, mas não são espíritas, uma vez que mediunidade não é exclusivismo do espiritismo. Há mediuns em todas as áreas e religiões. Dizem que aquela pessoa que pode ser considerada 'rata de sacristia', por exemplo, que está sempre em torno da igreja, que gosta de ajudar, é medium na maioria das vezes ( eu chamo estas pessoas, quando no meio espírita, de ' beato espírita'|). Dizem também que para se reconhecer um medium, umas das características é essa vontade de ajudar. Também são extremamente sensíveis, choram com facilidade. Muitos tem intuições fortes, que talvez não sigam. Todo bom medium duvida. Até mesmo por que essa é a máxima do espiritismo, que tenhamos discernimento, sem nos fanatizarmos.
Penso que devamos separar bem as coisas, ficar vigilantes, atentos e saber que há muito animismo, que podemos confundir as coisas. Mas também não devemos duvidar de tudo. Sempre o bom senso.
Um medium não deveria nunca envaidecer-se de sua mediunidade. Antes sim, ficar satisfeito, feliz, em poder cumprir bem sua missão. Muitos são os que fazem de seu mediunato uma missão, mais do que um dever ou um compromisso cármico. São pessoas que já evoluíram muito e vêm nos ajudar. Não devemos endeusá-los, mas antes respeitá-los e admirá-los pelo bom trabalho. E aprender com eles também. Chico Xavier sempre foi o exemplo máximo, um ótimo representante para o espiritismo, mas há aqueles que o veneram. Eu o vejo como um espírito em missão, mas ainda assim, um homem. Não um deus.
Quando entram para o espiritismo, principalmente para um grupo de estudos, raros são aqueles que não querem descobrir se tem algum ' dom' , se tem mediunidade ostensiva (porque mediunidade todos tem, em maior ou menor grau). E muitos se frustram justamente aí, por que acham que não fazem nada se não tem mediunidade ostensiva. Ou seja, não 'aparecem'. Eles admiram que tem esse tipo de mediunidade e querem ser admirados também, esquecidos que ser medium é muito mais do que isso. Acho que mediunidade é uma coisa de tamanha responsabilidade que só deveria ser dada aos espíritos mais capazes para isso, mais maduros. Mas, em geral, os que são assim, tem mediunidade como missão e não como provação. E é justamente através da mediunidade que o espírito tem a chance de evoluir. Nossa! Que assunto complexo!
Encerremos com uma frase muito propícia de Chico Xavier:
Nunca nos cansaremos de repetir que mediunidade é sintonia. Subamos aos cimos da virtude e do conhecimento e a mediunidade, na condição de serviço de sintonia com o Plano Divino, se elevará conosco”. (Chico Xavier)

terça-feira, 13 de março de 2012

COMO ME TORNEI ESPÍRITA



Sempre convivi com fenômenos mediúnicos em casa, mas me pareceriam normais.
Minha mãe incorporava ' involuntariamente', uma empregada também dava 'ataques', que era como chamávamos na época a incorporação por obsessor. Mas estranhamente estes acontecimentos, de tão corriqueiros, pareciam perfeitamente normais e integrados a nossa rotina. Nada sabíamos de espiritismo ou 'mesa branca' como meus pais chamavam, 'espiritismo de mesa'. Minha formação era católica, como a de meus pais e assim deveria ser por todo o sempre. Amém.
Quando tinha 9 anos, ia a igreja semanalmente e gostava muito, principalmente da hora dos cântigos. Por esta época 'descobri' a vocação para ser freira. Achava bonito o que imaginava ser uma dedicação total ao próximo. Gostava da ideia de viver enclausurada, em oração por todos, numa beatitude altruísta. Também gostava de ver as pessoas na igreja, num domingo cedinho, pensando que aquelas pessoas tinham outra opção, que era a de dormir até mais tarde no único dia de descanso na semana, mas levantavam-se cedo pra apenas ir orar. Não é bonito isso?
No entanto, na adolescência, por volta dos 13 anos, comecei a questionar a igreja. Ninguém sabia responder minhas perguntas. Não acreditava na ideia de céu e inferno que era propagada. Achava impossível só ter essas duas (na verdade, três, por que ainda tinha o purgatório) opções no pós vida. E se a pessoa se arrependesse? Sairia do inferno ou ficaria lá pra sempre? E o céu não seria uma coisa chata, só ficar tocando harpa, em beatitude eterna? Na verdade, esse questionamento vinha desde os 7 anos, quando comecei a me dar conta das coisas. Mas já por essa época isso não me convencia.
Também não entendia o ritual na igreja, do senta-levanta-senta-ajoelha-levanta-senta-levanta...Nem por que líamos aquele jornalzinho no 'piloto automático', só repetindo frases sem sentido (pelo menos pra mim).
De questionamento em questionamento resolvi romper com a igreja católica. Não sem antes discutir muito com minha mãe, que não aceitava minha opção. Ora, se era uma opção, eu poderia escolher, não?
Por fim, virei uma 'desgarrada', digamos assim. Não tinha religião, mas ela me fazia falta.
Não queria ter uma religião apenas por ter, mas ela deveria fazer sentido pra mim. Gosto de raciocinar sobre as coisas e não fazer algo por que todos fazem, sem refletir sobre isso.

Quando estava com mais ou menos 17 anos, no meu trabalho precisei substituir uma colega. Como fosse um setor muito parado (recepção), procurei algo pra ler nas gavetas da mesa dela e me deparei com um livro chamado Senzala. Anos depois me dei conta da ironia deste título. O livro não tinha sinopse e eu não tinha a mínima ideia sobre o que se tratava. Mas gostei mal comecei a ler. Era um romance. Quando narra a morte do personagem principal e sua vida no mundo espiritual, me surpreendi, mas me pareceu estranhamente familiar também. Ao terminar o livro, fiquei pensativa e quando minha amiga retornou pedi outros emprestados. Outra amiga, simultaneamente, me convidou a ir a um centro espírita. Passei a ler livros da área e a ir ao centro espírita todas as semanas. Gostava das palestras, do passe, da harmonia que sentia ali. Durante uns 3 anos não consegui me declarar espírita. Achava que precisava ter certeza disso primeiro, me sentir segura dentro da nova fé. Depois, orgulhosamente me declarava espírita. Amava minha religião.
Até próximo aos 30 anos foi assim. Mas aí minha mediunidade aflorou e precisei decidir muitas coisas.
Sempre me disseram que eu era médium, em muitos lugares, mas eu não sabia direito o que precisava fazer.
Na hora certa, porém, tu se encaixou.
Fiquei por alguns dias sentindo mal estar, dores estranhas, dores de estômago, inquietação, tonturas...Não sabia o que era. Uma amiga falou pra outra e essa outra fez uma oração enquanto psicografava de manhã bem cedinho. Se desdobrou e foi até minha casa em espírito Me deu um passe e eu, sem saber de nada, pois dormia e nada vi, acordei mais tarde já sem dor alguma. Somente mais tarde soube o que tinha acontecido. A minha amiga nunca tinha ido a minha casa, mas descreveu objetos do meu quarto, bem como sua disposição.

Fiquei surpresa com aquela revelação e muito grata também. Minha amiga sugeriu que eu fizesse um curso de educação da mediunidade com essa outra amiga. Durante duas semanas frequentei o centro espirita, assistindo palestras e aguardando por uma vaga na sala dela, já que uma outra pessoa entraria pra turma (que estava em curso há 1 ano e meio).
Por fim, fui recebida na sala e a tal pessoa que entrou junto comigo logo saiu. Não tive dificuldades em acompanhar por que lia muito, há muito tempo. Conhecia muito da teoria.
No primeiro dia, após os estudos, fizemos um relaxamento. Sempre tive dificuldades com esta parte, sou muito 'ligada' e relaxar é um problema, mas valia o esforço.
Na luzinha azul do ambiente, a voz macia de minha amiga-professora, quando percebi, 'vi' ao meu lado uma moça, mas não conseguia ver seu rosto. Sabia que era um espírito. Ela usava um casaquinho de cachemir rosa, tinha cabelo na altura dos ombros, era jovem, me parecia. Não sei precisar, mas talvez uns 30 anos. Embora não tenha visto seu rosto, sentia ser assim.
Ela estava no meu lado esquerdo, bem na frente. Surpresa, vi minha avó paterna do lado oposto, usando um vestido branco, com risquinhos diagonais em preto. Usava o cabelo com um grampinho prendendo-o ao lado e me olhava com preocupação, com um certo cuidado. Minha avó faleceu quando eu tinha 7 anos mais ou menos.
Sentia que ela me ajudava a me desprender do corpo. Parecia que segurava meu braço direito, pra me ajudar a levantar, espiritualmente falando.
Quando tudo acabou, as luzes se acenderam e fiquei surpresa mais uma vez por estar levemente enjoada e vendo tudo desfocado. Como usasse óculos pra longe (sou míope), e estivesse sem, pensei que fosse por isso. Mas mais surpresa ainda fiquei ao colocá-los e a sensação continuar. Além disso, eu via as pessoas que estavam ao meu lado como se fossem um borrão. Uma pessoa mais experiente do grupo disse que era só a mediunidade desabrochando e eu iria ficar bem. Mas não fiquei. Tive aquele enjôo até chegar em casa e também dor de cabeça, apesar de a visão turva ter passado. Hoje entendo que isso era fruto do desdobramento.


Na semana seguinte, senti muita inquietação pra permanecer na sala de aula, não conseguia ficar lá. Depois, tive uma vontade de chorar incontrolável e me encolhi na cadeira, sentindo muito frio. Uma pessoa ao meu lado me emprestou sua jaqueta e coloquei-a ao contrário, à guisa de cobertor improvisado. Aos poucos, ainda sentindo muito frio (era só eu), me encolhi por baixo da jaqueta e chorei. Chorava o tempo inteiro, sem que ninguém me perguntasse nada sobre isso. Acharam que eu tinha algum problema emocional, mas não perguntaram. No fim dos trabalhos, aquela medium mais experiente me disse que eu deveria sentar numa cadeira no centro da sala e fiz isso e logo senti que eu era outra pessoa, mas não queria aceitar isso. Sabia que estava incorporando, mas não queria ter esse tipo de mediunidade, tinha medo de perder o controle da situação.
Embora resistente, fui cedendo aos poucos, mas não de todo. Ficou uma coisa meio truncada.
Eu 'via' um menino, usava uma camiseta de listras azuis e brancas, parecendo maior do que ele. Deveria ter uns 8 anos e procurava sua mãe. Estava zangado e me disseram que era um morador de rua. Ele foi encaminhado e me senti infinitamente melhor. Dali pra frente todas as semanas acontecia alguma coisa nesse sentido.
Hoje controlo minha mediunidade com muito mais facilidade, já sou 'educada, digamos assim.
Já passei por muito grupos e no atual me sinto perfeitamente entrosada e a vontade com meus companheiros, muito satisfeita mesmo.
Achei o meu caminho!

sexta-feira, 9 de março de 2012


Li em algum lugar que “quando se tem fé nenhuma prova é necessária. Quando se duvida, nem todas as provas são suficientes”.
Fiquei muito tempo meditando sobre isso, por que concordo. Quantas vezes demonstro fé e as pessoas ao meu redor sorriem descrentes.
Não sou uma pessoa de fé intensa, duvido muito também, mas procuro confiar sempre.
A fé é crer em algo que não nos parece possível de acontecer, é 'ver além'. Ela não é uma coisa palpável, concreta, se baseia mais no sentido religioso.
Houve momentos em minha vida que surpreendi as pessoas por demonstrar uma fé, uma certeza absoluta, em certos acontecimentos. E houve momentos que até eu mesma duvidei do que sentia, se não era apenas um desejo de que algo acontecesse, me confundindo com o que eu sabia que aconteceria.
A fé é assim mesmo, muitas vezes vacilante, mas quem a sente só tem a ganhar.


Há pessoas profundamente religiosas, mas que não tem fé. Outras, mesmo sem religião, acreditam em algo com todas as suas forças.
Embora ache que a fé tenha conotação religiosa, na verdade ela independe disso. Acredito que a religião nos ajude a ter fé, mas não necessariamente. Muitas vezes queremos que algo aconteça (ou não aconteça), mas no fundo sentimos que nosso desejo não será atendido. É essa certeza do que vai ou não acontecer que chamo de fé.
A fé pode ser em Deus ou em algum representante dele, como os santos, Buda, Maomé, etc. E a fé também pode ser simplesmente essa certeza, essa confiança, mas sem vínculo religioso.
É difícil ensinar a ter fé. Isso brota da própria pessoa. Podemos, no entanto, desenvolver a fé, com base no otimismo. A fé necessita ser otimista. E ser otimista não significa que sempre aconteça aquilo que aparentemente é bom, mas acreditar que aquilo que se não nos parece bom de início, na verdade, é o remédio educativo e somente no futuro é que iremos descobrir isso. A fé é a confiança depositada de que se aquilo aconteceu assim, é porque deveria ter acontecido desta forma.
Quem não tem fé pensa que tudo passa por ele, de que pode controlar os acontecimentos, de que tem esse poder.

A fé nos dá serenidade pra aceitar o que não podemos mudar e coragem pra mudar o que podemos. Esta oração, a da serenidade, traduz perfeitamente a fé.
A fé, então, não está necessariamente ligada a nenhuma religião, mas ao sentido espiritual da vida. Quem é materialista acredita apenas nos fatos, nas evidências, naquilo que se pode provar. E a fé transcende tudo isso. É possível medir, no entanto, a elevação mental, o 'nirvana' que alguns sentem, quando profundamente concentrados em sua fé. A oração nos eleva e quando fazemos uso dela já foi comprovado cientificamente de que há uma alteração no cérebro, há liberação de hormônios, substâncias, que produzem relaxamento, enlevamento, alteração na consciência.
Ter fé nos acalma, produz tranquilidade, esperança.
Por isso tudo é que devemos ter fé sempre, por que o mínimo que pode acontecer é ficarmos em paz...