terça-feira, 5 de junho de 2012

DESAPEGAR-SE



Nunca me achei uma pessoa materialista. Não sou nada ambiciosa e não ligo pra status.

Até aí, tudo bem.

Fico sempre impressionada em como as pessoas dão valor pros bens materiais, principalmente para carro. Não sei marca de quase carro nenhum e reconheço melhor os mais antigos. O meu próprio carro, se mudar de cor, já não reconheço como sendo do mesmo modelo que o meu. Mas percebo que a grande maioria das pessoas não é assim. Quando alguém compra um carro (um colega de trabalho, um amigo, um familiar), percebo que as pessoas em volta tentam disfarçar, mas a maioria sente inveja e muitos, se já tem, trocam por outro logo em seguida.

Vejo carro dentro de sua função útil, um bem que nos proporciona praticidade, rapidez (?) e conforto. Mas para a maioria das pessoas é símbolo de poder, de status.

Ainda não consigo entender como conseguem dar tanto valor pra isso...Assim, como dão para roupas, casa, sapatos...

A aparência é outro valor muito apreciado. Todos devem estar dentro do padrão que a sociedade indicar. Por quê?

Dentro desse meu desprendimento (que não é demagógico), me sinto sempre um E.T. diante de meus pares. Adoro ser do jeito que sou com relação a isso, mas é difícil fazer as pessoas crerem ou aderirem a esse modo de ver as coisas. Todo mundo acha que tudo gira em torno do dinheiro. Entendo a dimensão e o poder do dinheiro, mas não consigo endeusá-lo como as pessoas com quem convivo. Dinheiro nos traz muitos benefícios, muitos prazeres, facilita a vida, mas não consigo entender como as pessoas são capazes de qualquer coisa por dinheiro.

Mesmo me auto descrevendo desta maneira, fiquei surpresa comigo mesma quando vi a foto abaixo num site espírita.


Trata-se do Tadeu, que conheci pessoalmente quando visitei a Casa do Caminho, em Araxá, que ele fundou e dirige.

Na foto ele aparece em sua pequenina casa, que fica no centro do terreno da instituição e onde tudo começou. Quando lá estive levei minha filmadora e registrei tudo. Mas, interessantemente, quando saí do hotel, estava com a bateria da câmera completamente carregada, como sempre faço, e lá comecei a filmar. Mal tinha feito as primeiras cenas e, quando fui filmar a casa do Tadeu, a imagem foi sumindo, sumindo e desapareceu do visor. A câmera não filmava nada. Liguei e desliguei várias vezes e nada. Mais tarde, resolvi insistir e filmar outra coisa e ela funcionou perfeitamente. Foi apenas na casa dele que isso aconteceu durante toda a viagem e história daquela câmera. Isso me impressionou e nunca esqueci, apesar de passados vários anos.

Sei que as energias podem interferir num aparelho eletrônico e talvez isso tenha acontecido com relação aquela casa. Por que, eu não sei.

Mas o que eu dizia era com relação a foto.

Nesta foto que mencionei, o Tadeu aparece sentado no que imagino ser sua cama, tendo ao lado um criado mudo. A casa é de estuque e o chão de barro (assim como o salão das palestras, que é de barro bem vermelho e numa das paredes está escrito: “tu és pó e ao pó retornarás”).

Tudo é muito simples e talvez tenha sido isso que me chamou a atenção: a ausência de objetos.

Me questionei, então, sobre meu suposto desprendimento.

Tentei entender por que me incomodou aquela cena. Entendo o desprendimento dele, mas não meu incômodo. Deu pra entender?

Realmente... porque precisamos de tantas tralhas?

Fiquei longo tempo meditando sobre o impacto daquela cena em mim. Ele tem o que precisa, na medida. Não trouxe nada e nada levará, então por que precisar de 'objetos'? Tentei avaliar meus objetos e entender por que preciso deles.

É fácil compreender o modo de vida dele, mas difícil de seguir...

Gostaria de ir me livrando de tudo que me cerca, mas sempre resisto e acho que preciso de tudo aquilo. Uma vez fui na casa de uma amiga e no quarto dela não havia nada além da cama e do guarda roupa. Ela se justificou (embora eu não tenha perguntado nada) que, como já passou por muitas enchentes, hoje não consegue ter mais nada com medo de perder, de estragar.

Mesmo assim, entendendo isso, aquilo me pareceu vazio demais. Talvez essa seja uma das respostas que busco: evitar o vazio.

Outra, seria eu gostar de controlar tudo e, ter os objetos próximos, me garante segurança, estabilidade, ter à mão quando precisar.

Tudo é muito complexo, quando falamos de seres humanos...

O certo é que pretendo, cada vez mais, imitar esse jeito desprendido do Tadeu de ser.

Lembrando um ditado popular: “caixão não tem gaveta...”

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